23 de novembro de 2014

Nada de pânico

As minhas sextas-feiras são sempre dignas de registo, e quando digo "dignas de registo" na verdade quero dizer "o oráculo de Delfos sugeriu a Hércules, para que ele se redimisse de ter assassinado a família e se tornasse imortal, que substituisse o José Rainho às sextas no ano letivo de 2014/15, ou, em alternativa, que executasse Doze Trabalhos. Ele preferiu os Doze Trabalhos, porque incluíam coisas mais fáceis e menos cansativas, tipo matar Hidras, limpar cocó produzido por três mil bois ao longo de trinta anos ou derrotar um dragão de cem cabeças". Portanto, como devem calcular, fico, todas as semanas, extremamente contente quando chega o sábado. Esta semana, ainda mais, porque até tinha umas turmas de testes para corrigir, outras para preparar, e várias tarefas que se acumularam durante a semana para fazer. Nada de pânico: tinha chegado o fim de semana!
Adormeci um pouco tarde, já depois da uma da manhã, fruto de uma noite de festa rija (como se os meus leitores acreditassem...), e estranhei quando acordei às 4 da manhã, a tremer de frio e sem me conseguir mexer. Tudo me doía; o meu estômago, revolto, comunicava ao intestino a sua intenção de sair pela boca fora, e o intestino afirmava que sim, que fazia bem, que era de maneira que lhe sobrava espaço para ele, até porque espaço era coisa que já não havia, de tão inchado que estava; os olhos hesitavam entre chorar e arder, e perante este empate técnico tipo congresso do Bloco de Esquerda, optavam pela sábia conjugação das duas moções, que se apressavam em cumprir simultaneamente; o pijama picava na pele como se o seu interior fosse feito de pionés em brasa (sempre adorei este aportuguesamento de punaises); a pele fervia de tal forma que, se aquela memorável cena do filme Nove Semanas e Meia fosse executada na minha testa e não no umbigo de Kim Basinger, deixaria de ser um thriller erótico e passaria a ser um programa de culinária.
Nada de pânico. Levantei-me, com dificuldade, e fui emborcar paracetamol. Aproveitei para medir a temperatura, eram 38 graus e não 45, portanto a febre real era mais fraca do que a que eu sentia por dentro. Voltei-me a deitar, e passei duas saborosas horas, enrolado nas mantas, a tremer, sempre a tremer como se fosse uma Panna Cotta do restaurante Prima Pasta na Rua da Madalena, e olhem que eu gosto do restaurante Prima Pasta mas as sobremesas deles tremem tanto que uma vez parti uma ao meio antes de a começar a comer, só para ver se não corria o risco de acidentalmente engolir um motor a pilhas. Lá consegui adormecer com o nascer do Sol, para acordar mais ou menos no mesmo estado a meio da manhã.
À custa de muito paracetamol, descanso, chá e agasalho, acho que o pior já passou - já não tenho febre e sinto-me bastante melhor. Continuo com as turmas de testes para corrigir, as outras para preparar, e várias tarefas que se acumularam durante a semana para fazer, mas achei que o tempo era mais bem empregue com um post neste blog. Nada de pânico: trabalho amanhã.
Boa semana a todos!

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