30 de novembro de 2014

Deixa uma luz acesa! James @ Meo Arena, 29/NOV/2014


Concertos em arenas enormes são sempre difíceis para qualquer banda, porque é demasiado fácil os artistas desligarem um pouco e tornarem-se demasiado impessoais quando à sua frente têm um mar de rostos que podem não ter uma ligação profunda à música que ouvem. Mas trata-se dos James, a banda cujos espetáculos têm por base precisamente essa ligação aos seus fãs, e o grupo de pessoas que veio comigo ao concerto estava bem disposto e optimista quanto ao que iam assistir. O MEO Arena é conhecido pela acústica e qualidade de som, na melhor das hipóteses, abaixo da média, portanto nesse campo não havia optimismo, mas às primeiras notas de Lose Control, completa com o Tim e o Andy a caminharem por entre a plateia para chegarem ao palco, era notável o trabalho que também nesse aspeto havia sido feito. A qualidade do som era de topo, cristalino e preciso, rico e alto mas sem ser demasiado alto.
A segunda canção, Oh My Heart, que o Tim descreve como sendo uma celebração dos momentos em que o nosso coração se parte em algo maior que o original, todos os sete já estão em palco, armados e perigosos com sorrisos gigantes e toneladas de carinho para distribuir. Walk Like You, música de abertura de La Petite Mort, é recebida muito positivamente pela plateia, que se junta ao Tim no seu falsete perfeito, e todos se perdem na dança na parte final da canção, expandida em relação ao álbum com um pouco de improviso e brilhantismo extra. A julgar pela quantidade de pessoas à minha volta a clamarem pela Emily nas suas camas, Frozen Britain é um sucesso entre os fãs, se não um sucesso comercial nas rádios. E é bastante óbvio que ainda todos se lembram de 7, um single perdido nos anos 90, e se deixam levar pelo troante trompete do Andy.
E depois todos dançamos.
Curse Curse é um êxtase de diversão, e segui-la com Laid é um toque de génio. 10 minutos bem medidos de dança frenética e as almas ficam contentes, e se os pulmões esvaziam, a verdade é que não há um rosto sem um sorriso naquela arena.
Aos sucessos dançáveis seguem-se duas mais obscuras. What's the World, uma das primeiras canções que os rapazes escreveram, contrasta com a desesperada e lânguida I Wanna Go Home. O Tim graceja que se esqueceu da letra, mas entoou cada palavra com precisão e honrou-nos com as suas características notas prolongadas, desta vez segurando uma delas por 47 segundos. All Good Boys é um B-side que merecia em pleno ser parte de um álbum, com maravilhosas harmonias vocais com o Larry, o Tim, o Andy e o Saul. Quicken the Dead, uma das canções menos conhecidas do La Petite Mort, tem uma lindíssima linha de piano do Mark e uma letra que questiona os objetivos a que nos propomos dada a curtíssima duração das nossas vidas. Just Like Fred Astaire é tratada pela arena com o estatuto de uma das canções preferidas dos fãs, estatuto esse que sempre teve, e, em seguida, a excitação acalma-se e todos ouvem com atenção as pérolas quase desconhecidas ou já esquecidas Jam J (que teve de ser reiniciada por causa de um problema num dos microfones), Dream Thrum e PS. A plateia faz, então, silêncio enquanto respeitosamente deixam o Tim cantar a sempre difícil e profundamente bela canção para a Gabrielle, All I'm Saying, pontuada por uma alma mais brincalhona que lhe atirou um lenço para ele limpar as lágrimas. Talvez o concerto tivesse beneficiado de separar estas últimas quatro colocando alguns sucessos pelo meio, porque quatro canções inadequadas à rádio e, portanto, menos famosas, todas de seguida, podem fazer com que a plateia se desinteresse um pouco. Mas, mais uma vez, é dos James que estamos a falar, portanto rapidamente voltam a acordar o edifício com uma interpretação de Getting Away With It (All Messed Up) em que o Tim, costas magoadas e tudo, se atira para cima dos fãs e é passado gentilmente de mão em mão arena fora, sem falhar uma nota que seja. "Like a boss", como dizem hoje em dia os miúdos.
Moving On é uma canção que, provavelmente, toca todos, porque cada um de nós já perdeu pessoas de quem gostava. E essas pessoas, quando partem, deixam sempre uma pequena luz acesa para nós. Aquece o peito de um fã acérrimo como eu ouvir aqueles milhares de pessoas a cantarem esta música do princípio ao fim. É incrível ver como Moving On acertou mesmo em cheio no coração dos fãs e é agora um total sucesso. Como, aliás, merece ser. Gone Baby Gone, a dinâmica e orelhuda canção para dançar que surpreendeu tudo e todos nesta tour, faz com que o Tim convide uns quantos a subirem ao palco e se divertirem com os rapazes. A banda termina o set principal com Sound, linda como sempre, e é assim que se faz milhares de adultos cantar em falsete em uníssono, milhares de corações latejando ao ritmo da batida do Dave. Foi um momento glorioso.
O encore começa com o Tim e o Andy nos balcões, e tocam outra das favoritas da plateia, Born of Frustration. A intro para a Interrogation demora uns bons 3 minutos, porque tanto cantor como trompetista tinham de voltar para o palco pelo caminho mais longo, mas quando arranca, a canção cresce e cresce cada vez mais, e a quantidade de vozes que se juntam prova, mais uma vez, a excelente receção que La Petite Mort tem tido em Portugal. E nada pode ser melhor que 10 minutos de união debaixo do guarda-chuva do hit massivo que é a Sometimes, que já não é uma música de uma banda de 7 elementos, mas sim uma música de uma banda de 10000 elementos, porque, como de costume, quando cantamos juntos, somos todos James.
E é exatamente isso o que torna os James tão diferentes. A banda adora os seus fãs e claramente ama aquilo que faz. Esse amor incondicional e palpável que emana deles é devolvido em decuplicado e faz com que os concertos sejam memoráveis. Claro que ajuda que a banda esteja em topo de forma, no pico das suas carreiras, mas o que faz a diferença é a ligação que eles têm com o público. Os James são, e escrevo isto sem qualquer sombra de hipérbole, a melhor banda ao vivo do mundo, sem exceções. Da próxima vez que eles estiverem por cá, façam um favor a vós próprios e comprem um bilhete. Não se vão arrepender. 

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