Concertos
em arenas enormes são sempre difíceis para qualquer banda, porque é demasiado
fácil os artistas desligarem um pouco e tornarem-se demasiado impessoais
quando à sua frente têm um mar de rostos que podem não ter uma ligação
profunda à música que ouvem. Mas trata-se dos James, a banda cujos espetáculos
têm por base precisamente essa ligação aos seus fãs, e o grupo de pessoas que
veio comigo ao concerto estava bem disposto e optimista quanto ao que iam
assistir. O MEO Arena é conhecido pela acústica e qualidade de som, na melhor das hipóteses, abaixo da média, portanto nesse campo não havia optimismo, mas
às primeiras notas de Lose Control, completa com o Tim e o Andy a caminharem
por entre a plateia para chegarem ao palco, era notável o trabalho que também
nesse aspeto havia sido feito. A qualidade do som era de topo, cristalino e
preciso, rico e alto mas sem ser demasiado alto.
A segunda
canção, Oh My Heart, que o Tim descreve como sendo uma celebração dos momentos
em que o nosso coração se parte em algo maior que o original, todos os sete já
estão em palco, armados e perigosos com sorrisos gigantes e toneladas de
carinho para distribuir. Walk Like You, música de abertura de La Petite Mort, é
recebida muito positivamente pela plateia, que se junta ao Tim no seu falsete
perfeito, e todos se perdem na dança na parte final da canção, expandida em
relação ao álbum com um pouco de improviso e brilhantismo extra. A julgar pela
quantidade de pessoas à minha volta a clamarem pela Emily nas suas camas, Frozen
Britain é um sucesso entre os fãs, se não um sucesso comercial nas rádios. E é
bastante óbvio que ainda todos se lembram de 7, um single perdido nos anos 90,
e se deixam levar pelo troante trompete do Andy.
E depois
todos dançamos.
Curse Curse
é um êxtase de diversão, e segui-la com Laid é um toque de génio. 10 minutos
bem medidos de dança frenética e as almas ficam contentes, e se os pulmões esvaziam, a verdade é que não há um rosto sem um sorriso naquela arena.
Aos
sucessos dançáveis seguem-se duas mais obscuras. What's the World, uma das
primeiras canções que os rapazes escreveram, contrasta com a desesperada e
lânguida I Wanna Go Home. O Tim graceja que se esqueceu da letra, mas entoou
cada palavra com precisão e honrou-nos com as suas características notas
prolongadas, desta vez segurando uma delas por 47 segundos. All Good Boys é um
B-side que merecia em pleno ser parte de um álbum, com maravilhosas harmonias
vocais com o Larry, o Tim, o Andy e o Saul. Quicken the Dead, uma das canções
menos conhecidas do La Petite Mort, tem uma lindíssima linha de piano do Mark e
uma letra que questiona os objetivos a que nos propomos dada a curtíssima
duração das nossas vidas. Just Like Fred Astaire é tratada pela arena com o
estatuto de uma das canções preferidas dos fãs, estatuto esse que sempre teve,
e, em seguida, a excitação acalma-se e todos ouvem com atenção as pérolas quase
desconhecidas ou já esquecidas Jam J (que teve de ser reiniciada por causa de
um problema num dos microfones), Dream Thrum e PS. A plateia faz, então,
silêncio enquanto respeitosamente deixam o Tim cantar a sempre difícil e
profundamente bela canção para a Gabrielle, All I'm Saying, pontuada por uma
alma mais brincalhona que lhe atirou um lenço para ele limpar as lágrimas.
Talvez o concerto tivesse beneficiado de separar estas últimas quatro colocando
alguns sucessos pelo meio, porque quatro canções inadequadas à rádio e,
portanto, menos famosas, todas de seguida, podem fazer com que a plateia se
desinteresse um pouco. Mas, mais uma vez, é dos James que estamos a falar,
portanto rapidamente voltam a acordar o edifício com uma interpretação de
Getting Away With It (All Messed Up) em que o Tim, costas magoadas e tudo, se
atira para cima dos fãs e é passado gentilmente de mão em mão arena fora, sem
falhar uma nota que seja. "Like a boss", como dizem hoje em dia os
miúdos.
Moving On é
uma canção que, provavelmente, toca todos, porque cada um de nós já perdeu
pessoas de quem gostava. E essas pessoas, quando partem, deixam sempre uma
pequena luz acesa para nós. Aquece o peito de um fã acérrimo como eu ouvir
aqueles milhares de pessoas a cantarem esta música do princípio ao fim. É incrível ver
como Moving On acertou mesmo em cheio no coração dos fãs e é agora um total
sucesso. Como, aliás, merece ser. Gone Baby Gone, a dinâmica e orelhuda canção
para dançar que surpreendeu tudo e todos nesta tour, faz com que o Tim convide
uns quantos a subirem ao palco e se divertirem com os rapazes. A banda termina o set principal com
Sound, linda como sempre, e é assim que se faz milhares de adultos cantar em
falsete em uníssono, milhares de corações latejando ao ritmo da batida do Dave.
Foi um momento glorioso.
O encore
começa com o Tim e o Andy nos balcões, e tocam outra das favoritas da plateia,
Born of Frustration. A intro para a Interrogation demora uns bons 3 minutos,
porque tanto cantor como trompetista tinham de voltar para o palco pelo caminho
mais longo, mas quando arranca, a canção cresce e cresce cada vez mais, e a
quantidade de vozes que se juntam prova, mais uma vez, a excelente receção que
La Petite Mort tem tido em Portugal. E nada pode ser melhor que 10 minutos de
união debaixo do guarda-chuva do hit massivo que é a Sometimes, que já não é
uma música de uma banda de 7 elementos, mas sim uma música de uma banda de
10000 elementos, porque, como de costume, quando cantamos juntos, somos todos
James.
E é
exatamente isso o que torna os James tão diferentes. A banda adora os seus fãs
e claramente ama aquilo que faz. Esse amor incondicional e palpável que emana
deles é devolvido em decuplicado e faz com que os concertos sejam memoráveis.
Claro que ajuda que a banda esteja em topo de forma, no pico das suas
carreiras, mas o que faz a diferença é a ligação que eles têm com o público. Os
James são, e escrevo isto sem qualquer sombra de hipérbole, a melhor banda ao
vivo do mundo, sem exceções. Da próxima vez que eles estiverem por cá, façam
um favor a vós próprios e comprem um bilhete. Não se vão arrepender.
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